Klaus decidira comparecer ao casamento de Marcellus que aconteceria
naquela noite de sábado.
Então pegara seu carro e após passar em um tintureiro
aonde havia pego o terno, decidiu que precisava também cortar seu
cabelo.
A primeira parada podia ser por motivo de pura vaidade, pois sua memória
remetia a Índia de anos atrás aonde apenas ingleses usavam
ternos bem passados e limpos. Porém seu desejo por um bom cabeleireiro
era veiculado ao fato de que Klaus costumava usar seus cabelos muito rentes
a cabeça e as experiências com giletes não lhe traziam
boas lembranças.
Então ele deixou seu carro próximo a praça da
República e decidiu andar.
O caminho era um pouco longo, porém ainda era manhã e
o tempo estava agradável.
Após a primeira meia-hora de caminhada Klaus percebeu que a
idéia não havia sido tão boa assim, pois estava cansado,
mas afinal o que ele poderia querer de um corpo que já vivera tanto
?
A cima dele brilhava um sol que se tornara cruel que insistia em aquecer
a cidade transformando um agradável passeio de sábado em
um adorável inferno escaldante.
A sua frente Klaus podia avistar que não apenas ele sofria com
aquele calor.
Dois meninos estavam sentados em um banco de praça com seus
engraxes encostados no mesmo.
Klaus então teve uma idéia. Engraxaria seus sapatos,
aproveitando assim para descansar um pouco.
Logo que se aproximou os dois garotos puseram-se de pé e ofereceram
seus prestimosos serviços, que conforme prometeram, transformariam
os já surrados sapatos de Klaus em calçados dignos de um
rei.
Klaus aceitou o desafio.
Então os garotos começaram o trabalho e se pelo menos
se os sapatos não ficassem como os de um rei, ao menos assim Klaus
se sentia ali, sentado naquele banco de praça descansando seu corpo
cansado.
Um homem em um carro estacionado logo a frente trocava a estação
de seu rádio enquanto conversava distraido com uma garota. No fervor
da conversa esse homem esquecera de virar sua mão e uma música
foi sintonizada.
Klaus ouvira aquela música a muito tempo atrás, era uma
espécie de música folclórica espanhola.
Contava uma história de amor. A mulher que espera seu marido
voltar da guerra mesmo depois de toda a tropa já ter retornado.
A música descreve o modo que essa esposa mantém o quarto
sempre arrumado e como ela sempre colocava dois pratos na mesa esperava-o
por algum tempo antes de jantar.