3a parte • Ao Mestre com carinho
O campus estava uma balbúrdia naquela tarde.
A polícia havia entrado na sala em que o Prof. Laverne daria a próxima aula. Ninguém entendia muito bem porque levariam cinco alunos do curso de química para prestar esclarecimentos.
Talvez fossem subversivos e não demoraria muito para começar uma confusão generalizada no campus.
Quanto ao Prof. Laverne, ele é que não iria arriscar sua cabeça para defender cinco alunos que achavam que podiam mudar o mundo lendo Mao Tsé Tung na Praça do Relógio ou algo do tipo.
Afinal Laverne sabia que não dependiam dele apenas cinco alunos ou uma classe inteira. Uma guerra estava acontecendo e todos os Sons of Ether dependiam de Laverne.
Então ele se trancou em sua sala e resolveu que não sairia de lá até aquela história de "vamos virar os carros da polícia" não terminasse.
Enquanto estava procurando um de seus livros preferidos para relembrar os velhos tempos de faculdade, ele escutou alguém batendo à porta.
- Sim. - ele respondeu como se estivesse compenetrado em alguma coisa.
- Prof. Laverne, abra a porta. É a polícia.
Os olhos de Laverne se arregalaram e ele se encolheu como se os policiais já estivessem lá dentro dizendo: "Se há subversivos em uma sala de aula, é lógico que o professor é o culpado."
Laverne pensou em fugir. Mas para onde?
Fazendo um rápido cálculo, constatou que saltar pela janela seria fatal e logo em seguida ficou irritado consigo mesmo.
"Laverne seu idiota! Como pode pensar em física quando tem dois policiais caçando subversivos em sua classe? Eu deveria andar armado. Mas não! Eu tenho que achar que sou um cientista e que essas coisas só acontecem com os outros. Mas agora eles não vão me levar."
- Prof. Laverne por favor abra a porta - repetiu o policial.
- M-mas é claro - respondeu Laverne.
Enquanto Laverne ia na direção da porta, ele se concentrava, a energia que existia naquela sala seria o bastante para matar um exército sem que eles soubessem o que os havia atingido. A mão de Laverne já brilhava um pouco então ele a escondeu atrás das suas costas.
- Prof. Laverne? - eram dois homens, um deles esboçava um sorriso até que simpático.
- Sim, sou eu - respondeu o professor.
- Pretende ir a algum lugar esta noite?
Quando Laverne escuto o que o policial disse seu coração disparou. Como ele não pensou nisso antes, era tudo tão claro! A prisão dos dois alunos era apenas um pretexto para prende-lo. Esses homens eram da Tecnocracia e foram lá para busca-lo.
Eles já sabiam de tudo. Da união das Tradições, do casamento de Marcellus... tudo.
"Não é hora de ser covarde. Não agora."
- Sim, irei ao casamento de um amigo - disse Laverne.
- Mas acho que chegará um pouco atrasado.
A mão de Laverne já estava deixando as costas para atacar os dois homens, quando o policial completou seu raciocínio.
- Ao que parece alguns dos seus alunos ficaram irritados com as notas que o senhor deu a eles no último semestre. Bem eles destruíram seu carro. Mas não se preocupe. Agora o assunto é com a polícia. Tenha uma boa tarde.
Laverne ficou parado na frente da porta enquanto os dois homens seguiam rumo à saída do prédio de Ciências do campus da USP.