Ela
foi ao velório, deu e recebeu pêsames, assistiu o enterro e depois andou muito
pelo cemitério para pensar. Quando se deu conta já era noite.
E agora ia para casa.
Então ela escutou passos.
Olhou para trás e nada viu.
Apertou o passo.
Abriu apressadamente a porta de casa.
Entrou em casa.
E escutou.
- Sara não tenha medo de mim. - a voz era de uma mulher, Sara
sentia que algo a vigiava.
- Quem está aí ? - disse Sara.
- A senhora dos sonhos Sara. Teus sonhos e de muitos. Meu
nome é Valéria.
- Seja lá quem for, vá embora.
- E porque haveria de ir embora Sara? Porque a deixaria sozinha?
Está passando por uma fase tão difícil. Amigas não abandonam outras amigas
em momentos difíceis.
- O que você é? Um espírito? Um demônio?
- Eu sou ambos.
Sara começou a sentir muito medo. Então gritou:
- Saia daqui demônio, saia de minha casa!
- Sim Sara, sinta ódio, sinta medo... foi assim que você me
chamou, mas agora não pode me mandar embora, pois seu coração está negro.
Vingue-se do mundo Sara, vingue-se das pessoas que não te amam. Que te obrigam
a viver aqui sozinha. Que te acham velha e feia. Do seu namorado que te abandonou.
Da sua tia, que se não tivesse morrido hoje, talvez Jaime nunca a tivesse
deixado. Talvez ele ainda estivesse com você, porque não teria coragem de
dizer o que sentia. Estaria com você por piedade.
- Não, não é verdade. Você é um demônio e está querendo me
tentar.
Sara agachou e começou a chorar como uma criança.
- Então se eu sou um demônio, reze e talvez eu vá embora.
Mas se eu não for, Sara, então você será minha.
- Eu... eu não me lembro a oração. Deus, faça-me rezar...
- Não se lembra Sara. Talvez tua fé a tenha abandonado também.
E teu Deus porque não a ajuda? Se após tua oração eu ainda estiver aqui eu
a levarei.
- Deus me ajude - Sara desabava em lágrimas.
- Se teu Deus não te ajuda, e se achas tão importante provar
isso então repita comigo. Ave Maria mãe de misericórdia...
Então Sara rezou junto com aquela voz, fechou os olhos com
força e sentiu alguém lhe abraçar.
Quando abriu os olhos estava lá uma mulher linda, vestida
de noiva...Sara estava mais calma, pois pensava que ela significava sua salvação.
A noiva então lhe disse:
- Eu não falei que de nada adiantaria a oração.
Sara então gritou.
No dia seguinte algumas vizinhas comentaram sobre esse grito,
mas foram advertidas pelos seus respectivos maridos a não se meterem na vida
de estranhos.